estes textos foram criados a quatro mãos e muito amor. são relatos de uma viagem de jipe de quase três anos, absolutamente apaixonante - e apaixonada! - de Portugal a Moçambique (passando pela China). Ja não estamos juntos, os que faiscamos assim, e alguns destes textos ainda doem ca dentro... Espero que gostem, tem tanto de mim aqui... (cronicas publicados na revista TABU do jornal SOL).
Sunday, May 3, 2015
Que tudo corra bem
Inshallah!
O grande mar de areia
A santa que pernoita
Cairo, o triunfante
Os encantadores
É ?masculino?, dizem-me
Zeenatahunna, a beleza
Monday, March 23, 2015
não olhes para trás
O zelador do templo
Nao me sabe mal...
Já que aqui estamos
Goreme, Turquia.
10 horas.
- Estaciona aí, espera, acho que não se pode... desculpe, aqui não se pode?
- Posso?
- Não sei, não percebo o que ele diz...
- Vê aí no guia as frases fáceis.
- Em Turco não há disso, olha aqui, é impossível de dizer. Mas tento, evet? hayir? (sim, não) ele diz belki, espera lá, ora belki é... é “talvez”. Acho que está a gozar comigo.
- Deixa, levamos o Ra?
- Aqui? Mas é um museu.
- É ao ar livre, não perguntes, levamos.
Na bilheteira estranham mas aproveitam, Ra paga meio bilhete
- Bem, é fantástico.
- É incrível não é?
- Mas construíam assim porquê?
- Porque era mais fácil escavar na pedra mole do que andar a carregar. Depois vais ver em Istambul...
- Mas achas mesmo que devemos ir – Ra não faças aí, isso são frescos! – achas que devemos ir já para Istambul?
- Sim, porquê?
- Não sei, ainda não sabemos se podemos mandar de lá o jipe.
- Mas temos este contacto da Vainoglio Shipping.
- Sim, na China também tínhamos contactos e foi o que foi. E na Rússia também havia barco em Rostov e depois...
- OK, não temos a certeza mas em princípio...
- Mas eu agora queria ter a certeza porque se vamos a Istambul e não há transitário? – olha aquela, isto viver aqui dentro devia ser difícil – não sei, tenho receio que cheguemos lá e nada, mais quilómetros e depois...
- Se de lá não der vamos para a Grécia, também temos aquele contacto da Teresa, de Pátras – as igrejas é por aqui, queres ver ou já não te apetece?
- Sim, vamos. Mas teríamos de ir para a Grécia de novo e ela não deu datas. E afinal vamos para Moçambique ou para o Vietname?
- Então não decidimos que o Vietname fica para depois?
- Sim, mas estamos sempre a mudar de planos.
- Que fazemos então?
- Sei lá, a mim apetece-me passear por aqui, não podemos fazer isto para sempre? Estou a brincar. Tenho fome. OK, vamos tentar... mas os ferrys são sempre difíceis e nós vamos dentro do jipe, num transitário vai lá o jipe sozinho... há histórias de malta que perde tudo assim, afunda-se o teu contentor, só o teu, percebes? Ou não deixam desalfandegar... não te lembras que o meu irmão falou nisso?
- Porque estás tão pessimista? Não és tu que dizes que “há trolls nas palavras”?
- Sim... mas repete lá para eu me convencer, se o jipe for no contentor do transitário nós vamos...?
- De avião, com o Ra - já me deste um beijo hoje?
- Ó pá, não faças isso, eles aqui olham muito, amor!beijam-se Vamos almoçar? tenho fome!
Esplanada.
13 horas.
- O que é que te apetece?
- Não sei, aqueles hummus e assim...
- Há kebabs de carneiro.
- Pode ser. E um pastel daqueles doces muito perfumados.
- E peço isso como ao empregado?
- É... como é que se chama? Tavukgogsu, pede lá para eu ver. Telefonas para a D. Teresa? – ei, este gato saltou para o meu prato! Bicho, bichano, sai lá daqui.
Telefonema transitário grego
- Eu para Moçambique não sei... nós fazemos é muitos transportes para o Cairo... para o Cairo não lhe dava?
- Cairo?... mas como descia depois para Moçambique? Porque por terra não dá, eh, eh -riso nervoso - como poderia ser?
- Só se fosse depois de barco de Alexandria para Maputo, deve haver, não é? De qualquer modo demora, o nosso vai a Amesterdão, compreende? são as rotas que usamos... são sempre 30 dias. Mas porque não veio de avião? Isso de vir assim por terra é um bocado complicado...
- Filipa, diz que são 30 dias.
- Ai! Como vamos ficar esse tempo à espera do jipe com o Ra?
Telefonema D. Teresina, Embaixada portuguesa em Ancara
- Andam a viajar como? Não percebi? De carro?
Pois... estou a ver... mas sabe quem se calhar pode ajudar? o nosso Embaixador no Cairo é muito simpático, telefone, pode ser, não é?
Telefonema Embaixada no Cairo
- A viajar por terra? De Portugal à China? E da China à Turquia? Caramba.
Bom, daqui... como poderia ser? Mas, desculpe lá, mas como é que faria daí donde está para chegar ao Egipto com o jipe? E, desculpe, mas estão a pensar atravessar África por terra? Isso era uma viagem fantástica.
- Quer dizer – Filipa, ele fala em atravessarmos África por terra - Nós gostávamos mas... Bom, estamos aqui a ver barcos, mas demoram muito e não é viajar por terra.
- Pois, isso é pena, mas para seguirem até aqui... Síria e Jordânia, talvez... não sei. Há a questão de Israel...
- Mas nós não temos vistos nenhuns, como não planeámos vir por aqui...
- Então mas se aí na Embaixada vos ajudassem a chegar aqui de algum modo, eu ajudo a partir daqui.
- Mas descíamos como? Quero dizer, há o problema do Sudão.
- Sim, de facto o Sudão é muito complicado... era de evitar, mas deixe-me aqui falar porque tenho muito boas relações com o Ministro Plenipotenciário no Cairo e pode desenhar-se uma rota... sei lá, sei que há um ferry para Port Sudan, não sei, estou a pensar. Falem com a Embaixada aí, eu vou ver.
- O que achas?
- Bom, eu nem imagino, atravessar toda a África por terra?
- Sim. Apetece-te mais que mandar de barco?
- Qual barco, eu já nem penso no barco!
- Mas era mais sensato e seguro, não?
- Sensato e seguro era ter ficado em casa.
- Mas e o Sudão? Nós não podemos atravessar o Sudão!
- Deixa ver, ele disse que talvez haja essas hipóteses de ferrys... Ele ficou entusiasmado não foi? Eu também fiquei!
- Eu também...
Novo telefonema para o Cairo
- Estive a ver, há a hipótese de tomar um ferry de Alexandria para a Arábia Saudita, de lá para Port Sudan, de lá para a Etiópia, porque o Sul do Sudão é que não pode mesmo ser passado. Eu achava muito interessante passarem a Etiópia, numa viagem assim, no fundo é a nossa História, é a rota de Pêro da Covilhã. Mas o que é que sentem em ir viajar num país em guerra?
Se conseguirem vir andando quando estiverem na Jordânia telefonem.
- Agora só falta arranjarmos os vistos.
- Só, dizes tu.
- É melhor avisar o MNE?
- De que queremos atravessar África? Eu até tenho vergonha.
- Bom, vamos para Ancara?
- Vamos!
Ainda hoje Luíz de Albuquerque Veloso, do MNE, nos diz
«Não poderei nunca esquecer o vosso telefonema quando estavam na Turquia a participarem-me que "já que ali estavam", iam primeiro a Moçambique (por terra) e logo iam ao Vietname!!!»